Foi no meu gabinete de senador, em 1997, que conheci a médica Ceci
Cunha, levada pelo meu então colega Teotônio Vilela. Tratava-se de uma
simples visita. Ela tinha sido a primeira mulher eleita deputada federal
por Alagoas, em 1994. Era do PSDB.
Seu trabalho parlamentar se
orientava por dois compromissos: fortalecimento das políticas sociais
voltadas à saúde e à educação e apoio ao desenvolvimento do seu estado e
do agreste alagoano, pois fora eleita pelo maior município da região:
Arapiraca.
A conversa foi agradável e começou de forma divertida,
com o Teotônio dizendo que a estava trazendo para conhecer um paulista
importante e que a ajudaria nas suas lutas para levar apoio e
iniciativas a Arapiraca.
Eu respondi mais ou menos assim: "Olhe,
Ceci, isso é conversa do senador. Em São Paulo, eu não sou da classe
dominante. Aqui no Senado, não sou o líder do meu partido, não participo
da Comissão de Orçamento nem sou tão popular como o Téo entre os
colegas. Ele só está querendo impressioná-la. Mas eu é que vou lhe pedir
ajuda para meus projetos que estão na Câmara..." Caímos os três na
risada.
Dedicamo-nos, em seguida, a conversar sobre Alagoas, sua
terrível situação financeira na época, e sobre o agreste, seus dramas e
seu potencial inexplorado. Falei-lhe um pouco dos projetos que
desenvolvi para o Nordeste no tempo em que chefiara o Ministério do
Planejamento, como o Pró-Água e o Prodetur, mas sobretudo procurei
aprender sobre seu estado e sobre os serviços da saúde, cuja realidade
ela tão bem conhecia.
Pois não é que, no dia 31 de março de 1998,
assumi o Ministério da Saúde, meta que nunca havia passado por minha
cabeça? É evidente que o Teotônio Villela tivera alguma premonição ao
apresentar-me a deputada e ginecologista do agreste alagoano.
Acolhi-a
rapidamente no ministério, sabendo que iria receber diagnósticos e
propostas confiáveis. Torci por sua reeleição, que era naquele ano, e a
encontrei depois, feliz da vida, e vindo cobrar o atendimento de
reivindicações pendentes.
Mas foi a última vez que a vi. De forma
estúpida e cruel, ela foi simplesmente fuzilada na noite do dia da
diplomação dos eleitos, 16 de dezembro. Além dela, foram assassinados
seu marido, seu cunhado e a mãe do seu cunhado, todos na varanda da casa
de sua irmã, que ela fora visitar.
Leia a íntegra em Covardia e Justiça
José Serra é ex-governador de São Paulo
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