O PARTIDO DO SAUDOSO DR. JOÃO UCHOA

terça-feira, 3 de janeiro de 2012

REVEILLON DE FORTALEZA É DEMOCRÁTICO, PRECISA É SER MAIS TRANSPARENTE NOS GASTOS

Todo ano é a mesma coisa: no dia 31 de dezembro, a prefeita despeja um rio de dinheiro no aterro da praia de Iracema para promover um show musical para mais de um milhão de pessoas e a oposição protesta.
A argumentação dos que se opõem pode ser resumida assim: seria absurdo para uma cidade onde há tantas carências básicas e necessidades emergenciais gastar alguns milhões de reais em somente um dia de festa.
O modo às vezes extremado como alguns opositores desenvolvem sua linha de raciocínio sugere que a iniciativa é absurda enquanto houver um único buraco no pavimento das ruas. Discrepam quanto à prioridade.
Onde a oposição vê gasto sem retorno, um “desperdício”, a prefeitura realiza com a intenção do investimento: o recurso retornaria pela via direta da oportunidade renda e pela via indireta do incremento tributário.   
O discurso da prefeitura é de conta na ponta do lápis: assegura que é crescente, apenas para dar um exemplo, a ocupação antecipada da rede hoteleira logo para os últimos dias do ano que termina.
Como se sabe, o turismo é uma atividade capilar, interage com muitas outras cadeias produtivas e com potencial multiplicador – não só em emprego formal, mas em iniciativas individuais de baixa renda também.
Há quem veja no evento até uma contribuição para melhor qualificar o próprio perfil do turista que nos visita. Quem vai lá, percebe que se trata de uma festa familiar, inclusive com a presença de muitas crianças.
A parte isso, o evento permite que milhões de pessoas que não têm grana para pagar o ingresso e ver um show daqueles, possam viver a rara experiência em um dia que é, afinal, tão especial. É democrático.
Na medida do possível, a organização do evento tem dedicado, ainda, atenção plural: ali já se apresentaram artistas emergentes (Mona Gadelha), de linguagem refinada (Caetano Veloso), além da turma do bagaço (Ivete Sangalo). 
Não custa ressaltar ainda um fato que deveria gratificar a autoestima da cidade: a beleza de se ver milhões de pessoas reunidas em nome da alegria, sem nenhuma ocorrência grave de violência (mesmo com a polícia em greve).
Se há algo que se possa dizer em contrário, o digo agora: erra muito a prefeitura em não buscar com maior empenho o apoio da iniciativa privada para financiar parte do evento. Muitas cidades o fazem com sucesso. 
Outra atitude que deveria adotar a prefeita seria tornar mais transparente a prestação de contas dos gastos com a festa. São frequentes as declarações conflituosas entre artistas e organizadores do evento sobre os cachês pagos.
A ausência de parcerias privadas e de transparência nos gastos é motivo de desgaste para a imagem da gestão e fornece munição para que seus opositores lhe combatam mesmo naquilo em que é bem sucedida.
Enfim, investir na alegria não é sempre um desperdício, pois a alma também precisa ser nutrida – “Nem só de pão vive o homem”, alguém já disse. Mas, “se vai rolar a festa”, que se gaste menos e melhor. Aí, o ano começa bem.
* Ricardo Alcântara,
Publicitário e poeta.

Nenhum comentário:

Postar um comentário